quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Senilidade precoce

Talvez eu sofra de senilidade precoce. Sei que soa estranho, até a mim é estranho, ainda mais por estar na flor da juventude. Mas deixo bem claro que tal senilidade não se remete à fraquezas físicas e sim, a pensamentos um tanto senis para minha idade.
Já ouvi que sou jovem com cabeça de "velho", admito que acho graça, mas ser assim é algo inerente, ninguém escolhe como vai pensar, a não ser que este não tenha opiniões seguras.
Por muitas vezes, quando não tomo meu chá da tarde com a minha avó, me sinto como que quebrando um ritual, não que seja coisa de velho gostar de chá, mas tomar chá da tarde, isso sim é coisa de velho - sem significações pejorativas -que senta na cadeira, olhando para fora, como quem pensa na vida e nas memórias, com uma xícara de chá em mãos e um bolo de fubá recém saido do forno.
Em vários momentos me pego na saudade, procuro álbuns de fotografia, mergulho em lembranças, rio sozinha, sempre com o coração apertado de saudade, talvez querendo que tudo voltasse.
Mas voltando à questão da senilidade, há dias em que não me aguento e pego um dos meus melhores livros - por excelência, Clarice Lispector - e sem nem mesmo pensar, já me encontro no jardim da Vergueiro (CCSP), e é lá, onde eu descanso a alma, enquanto o sol se deita diante dos meus olhos. E em muitos momentos, gosto de observar as pessoas, e penso como tudo muda com o tempo, inclusive eu !
Tais pensamentos, que tenho durante o correr do dia e que me consomem sem qualquer paciência e espera, asseguram-me da minha senilidade. Sinceramente, não me incomodo de ser vista como "velha", pois o amadurecimento faz parte de nosso crescimento, sei que não sou uma mulher feita - conceito este que é totalmente referencial - mas tenho minhas vontades, como tomar chá à tarde, ter um dia de leitura com o tempo me assistindo, sair para ver a "nova juventude", de me olhar no espelho e ver as mudanças do tempo em mim, ler meus textos e perceber que com o passar das primaveras, muitas flores têm florido em meu jardim.
Por mais senis que sejam meus pensamentos, as flores que nascem em meu jardim, serão sempre flores de juventude, juventude amadurecida.

Um comentário:

  1. Sinceramente, não me incomodo de ser vista como "velha", pois o amadurecimento faz parte de nosso crescimento, sei que não sou uma mulher feita - conceito este que é totalmente referencial - mas tenho minhas vontades, como tomar chá à tarde, ter um dia de leitura com o tempo me assistindo, sair para ver a "nova juventude", de me olhar no espelho e ver as mudanças do tempo em mim, ler meus textos e perceber que com o passar das primaveras, muitas flores têm florido em meu jardim.
    Absolutamente lindo, chuchu!

    Descobri com você que sou velho! haha...
    Falando sério, acho que podemos nos prender demais a esses estigmas sociais. Há um tempo deixei de me considerar "velho"; eu simplesmente cultivo o estilo de vida que para mim me soa mais confortável ou próximo daquilo que chamo de realização pessoal.
    Gosto de ver como o tempo age sobre as coisas (isso me inclui), isso me causa receio na mesma medida que me causa fascínio. Acho que a imortalidade deve ser o inferno, por isso gosto muito do tempo. Entretanto, não há como escapar das instabilidades e da falta de confiança provocadas pela normatização em nossa sociedade.
    Ser "velho" é muito relativo, e não pode ser uma perda de tempo, pois a experiência temporal é única para todos os indivíduos (ainda que em muitas vezes nós nos esqueçamos disso); e não podemos contudo ser ingênuos e pensar que somos completamente "nostálgicos sem causa", sociólogos que suspiram e observam a "nova juventude", pois a nossa vida é composta em grande medida da dialética entre o passado e o presente.
    Inclusive, ser "velho" pode ser um sintoma de que as identidades juvenis estão cada vez mais artificiais; em última análise, ser "velho" pode significar ser "vanguardista".
    Mas... meu coração "rebelde" ainda canta por enquanto I hope I die before get old; ainda que a minha juventude seja tomar chá com minha vó e comer bolo de fubá.

    Parabéns pelo texto chuchu! Muito bem escrito!

    Obs.: Compartilho em alguma medida do teu drama, embora não me considere um senil precoce. O André sem dúvida merecedor dessa designação.

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